Dificuldade de financiamento, taxas de juros elevadas e mudança cultural levam à busca da modalidade, que permite possibilidade de compra futura
O crescimento exponencial do aluguel por assinatura evidencia a mudança cultural do brasileiro que sempre viu o bem como um investimento, mas que agora se depara com altas taxas de juros e dificuldade para obter um financiamento. Segundo estimativas da Abla (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis), em 2024, a modalidade de aluguel por assinatura deve atingir 200 mil, um salto de 25% em relação a 2023. Em 2020, foram registrados 80 mil contratos e, se as estimativas se concretizarem, o segmento crescerá 150% em apenas 4 anos.
Justifica este crescimento a alta taxa de juros cobrada pelas financiadoras. Apesar dos cortes recentes na Selic, hoje em 11,75% ao ano e da projeção de que termine 2024 em 9%, o brasileiro paga mais que o dobro para adquirir um carro. Em novembro de 2023, os juros cobrados estavam em 25,98% ao ano, segundo dados do Banco Central. Em parte, o valor alto está relacionado à inadimplência crescente ao longo do ano passado e que chegou a 5,3% também no mês de novembro.
Atualmente, a cada dez pedidos de financiamento, 7 são rejeitados, deixando um público de milhões de brasileiros longe do sonho de ter um carro próprio, seja para uso pessoal ou para complementar a renda ao se tornarem motoristas de Apps. “Com a alta inadimplência, os bancos aumentaram as exigências para dar o aceite na proposta de financiamento do veículo, o que leva o brasileiro a buscar modelos alternativos”, explica J.R. Caporal, CEO da Carflip, startup que oferece aluguel de carros por assinatura com possibilidade de compra futura.
Ao longo de 2023, a Carflip registrou um crescimento de 110% na procura por aluguéis por assinatura. Segundo Caporal, este movimento está relacionado ao fato de a empresa contar com um modelo mais flexível na análise de crédito, que permite até negativados conseguirem alugar o veículo. “Existe uma régua de aprovação, mas tudo depende do nível de restrição que a pessoa tem”, complementa.
Outro diferencial que atrai a demanda é o fato de que quem aluga o carro pode adquirir o bem, caso deseje. O acordo inclui a possibilidade de aquisição após seis meses de uso com desconto do programa de cashback, um montante cumulativo no tempo equivalente a 25% de todos os valores pagos pelo cliente referentes ao uso do veículo, ou seja, taxa de contrato e assinaturas. A empresa também possui uma ampla gama de modelos, pois não tem frota. “Nosso cliente entra no site, escolhe o modelo que deseja de uma das nossas parceiras e só então é que adquirimos o veículo para a realização do contrato de locação”, ressalta Caporal. Hoje, a Carflip conta com uma rede de cerca de 100 parceiros entre concessionárias e lojas multimarcas.
Finanças pesam na escolha
O conhecimento do brasileiro sobre finanças pessoais é crescente e as pessoas passaram a comparar os custos e benefícios entre o aluguel e o financiamento do automóvel. “Ao alugar, você não está preso a um veículo por um longo período e tem a possibilidade de acesso a carros mais novos com tecnologia mais recente. Além disso, muitos contratos incluem serviços de manutenção, o que pode economizar dinheiro em reparos e revisões. Já a preocupação com a desvalorização, que em cenário conservador pode chegar a 6% ao ano, não existe, pois não é o proprietário”, pontua Jonas Carvalho, sócio-fundador da consultoria de investimentos Hike Capital.
Caporal complementa que os veículos de assinatura possuem apenas o custo de mensalidade e, comparado à aquisição, não sofrem desvalorização, custos de manutenção, documentação e seguro. Somados, os custos de aquisição, descapitalização, e demais valores despendidos ao longo do período de uso do veículo e, considerando o crédito recebido pela venda, o financiamento tem um resultado pior se comparado à assinatura de um veículo.
“O consumidor deve estar preparado e prever todos os custos que vão além da aquisição. Diretamente, no caso de uma compra financiada, além do valor disponibilizado para entrada, incidem os custos de juros e IOF da operação. Para um veículo zero km, o consumidor deverá se preparar para os custos de documentação, IPVA, licenciamento e emplacamento. Para os veículos seminovos, os custos de documentação e transferência, sendo IPVA e licenciamento dependendo do período do ano. Para ambos, deverá prever custos de seguro, assistência 24h e revisões”, explica.