*Por Cristian Roberto Correia Costa
Trabalhar há décadas com corte e dobra de aço me ensinou que, embora o setor tenha avançado muito em automação e rastreabilidade, ainda enfrentamos obstáculos que precisam ser superados para consolidar a industrialização como padrão na construção civil. Entre os principais desafios estão a resistência cultural, o alto custo inicial de investimento em tecnologia e a necessidade de mão de obra qualificada para operar novos sistemas.
O primeiro deles é cultural. Muitos profissionais da construção ainda enxergam o corte e dobra no canteiro como a maneira mais “econômica” de trabalhar, sem considerar o impacto do desperdício, do retrabalho e da baixa produtividade. Essa percepção precisa ser desconstruída com dados concretos, que mostram reduções de até 11% no custo final das obras que optam pelo aço processado industrialmente. Para mim, o caminho passa por conscientização e pela disseminação de cases reais de eficiência.
Outro obstáculo está no custo de entrada. Máquinas de comando numérico, softwares de otimização e sistemas de rastreabilidade representam investimentos significativos, o que leva muitas empresas a hesitar. Acredito, porém, que essa barreira é superada quando encaramos a tecnologia não como gasto, mas como alavanca de competitividade. Os ganhos em escala, a redução do desperdício e a segurança na execução tornam o retorno sobre o investimento inevitável no médio prazo.
O terceiro ponto é a mão de obra. Operar equipamentos de automação e interpretar dados de rastreabilidade exige profissionais mais qualificados, capazes de lidar com processos digitais. O setor precisa investir em treinamento e formação, aproximando indústrias, escolas técnicas e universidades para preparar a próxima geração de trabalhadores.
Superar esses desafios não é simples, mas é possível. Tenho convicção de que a construção civil só avançará rumo a maior eficiência e sustentabilidade se adotar de forma ampla o aço pronto para montar. Isso significa romper resistências, planejar investimentos com visão de longo prazo e valorizar a capacitação de pessoas.
O futuro da nossa área não será escrito por quem continuar preso ao improviso, mas por aqueles que entenderem que qualidade, rastreabilidade e automação não são apenas tendências, são a base para um setor mais competitivo, seguro e sustentável.
*Cristian Roberto Correia Costa é administrador de empresas formado pelo Instituto Superior do Litoral do Paraná (ISULPAR) e sócio-diretor da Aço Total Comércio de Aço LTDA desde 1998 e da Total Corte e Dobra de Aço LTDA desde 2012. Com mais de 25 anos de experiência no setor de estruturas metálicas para a construção civil, acumula resultados expressivos, como a redução de 22% nos custos de produção com a adoção do sistema de bobinas e o aumento de 33% na capacidade produtiva. Ao longo da carreira, consolidou parcerias estratégicas com os principais fornecedores de aço do país e atua diretamente no planejamento, gestão de equipes e desenvolvimento de soluções para eficiência produtiva no setor.