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Metas abusivas, silêncio institucional e o preço invisível pago por trabalhadores bancários

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Advogada trabalhista Juliane Garcia de Moraes alerta: modelo de metas adotado por bancos no Brasil adoece trabalhadores, fragiliza vínculos e exige reação jurídica firme para garantir direitos

No Brasil, a palavra “meta” já não significa apenas desempenho. Para milhares de trabalhadores do setor bancário, ela virou sinônimo de exaustão, pressão emocional e perda de controle sobre a própria rotina. Alterações constantes nos critérios de avaliação, bonificações que mudam a cada semestre e jornadas que ultrapassam os limites da legislação compõem um cenário cada vez mais comum — e invisibilizado — dentro das agências.

A advogada Juliane Garcia de Moraes conhece essa realidade de perto. Recentemente, ela venceu uma ação importante envolvendo metas abusivas e direitos trabalhistas violados por uma grande instituição financeira. A cliente que representava havia passado anos submetida a um modelo de cobrança e produtividade que não apenas comprometia sua remuneração de forma arbitrária, mas afetava diretamente sua saúde emocional.

“Essas metas são desenhadas para parecer meritocracia, mas o que se vê na prática é manipulação. Os critérios mudam sem aviso, os descontos aparecem sem explicação, e o trabalhador nunca sabe o quanto vai receber no final do mês. É uma estrutura pensada para favorecer apenas a empresa”, afirma Juliane.

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Segundo ela, o problema é profundo e sistêmico. “Há uma cultura de silenciamento. A maioria dos trabalhadores não denuncia porque acredita que ‘faz parte do jogo’, ou porque tem medo de represália. Mas a verdade é que esse jogo tem regras — e a lei está do lado de quem decide jogar com justiça.”

O caso que Juliane conduziu acendeu um alerta: não basta aceitar o que o banco impõe como regra. É preciso avaliar se aquilo está dentro do que a legislação trabalhista permite. Ela destaca que muitas instituições tentam descaracterizar funções, atribuindo títulos como “cargo de confiança” para evitar o pagamento de horas extras ou aumentar a jornada legal. “Pagar gratificação não transforma ninguém em gestor. Cargo de confiança exige poder real de decisão, de comando — e isso é raro de se ver na prática.”

Juliane também chama atenção para o impacto psicológico desse modelo: “Não é só financeiro. É o adoecimento silencioso, o afastamento da família, o sentimento constante de inadequação. Já atendi clientes que chegaram ao limite físico e emocional antes de perceberem que estavam sendo explorados.”

Seu recado é direto: não é preciso esperar a demissão para buscar ajuda. “Se você sente que está sendo lesado, que trabalha demais sem o devido reconhecimento, que suas metas não fazem sentido ou mudam o tempo todo — procure orientação. É possível, sim, reconstruir sua história profissional com justiça e dignidade.”

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