Especialista avalia que, sem orientação adequada, esse crédito pode endividar pessoas que já se encontram em situação de vulnerabilidade social
A Associação Brasileira das Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (ABCRED) divulgou, recentemente, que a procura por microcrédito em todo o Brasil cresceu 18% no primeiro semestre de 2024. O levantamento mostrou que as instituições que atuam com microcrédito produtivo orientado liberaram R$ 566,83 milhões nos seis primeiros meses deste ano, contra R$ 479, 97 milhões do primeiro semestre de 2023. No Centro de Apoio aos Pequenos Empreendimentos (Ceape) Brasil, especializado nesta modalidade, o tíquete médio dos empréstimos cresceu 45,8%, chegando a R$ 7 mil em julho de 2024. No mesmo mês do ano passado, a média era de R$ 4,8 mil.
Claudia Cisneiros, diretora-executiva do Ceape Brasil, avalia que a positiva relevância deste cenário é ainda maior quando considerados quem são os principais tomadores desse crédito: pequenos empreendedores que também necessitam de educação financeira.
“Como o próprio nome já sugere, o microcrédito produtivo orientado tem o intuito de fornecer educação financeira ao empreendedor de forma que ele possa não só ampliar seu negócio, mas também torná-lo sustentável ao longo do tempo. Acontece que o microcrédito de diversas instituições comerciais tem um viés de consumo. É um CDC (Crédito Direto ao Consumidor) adaptado, e isso pode ser prejudicial ao longo do tempo”, afirma.
De acordo com a diretora-executiva do Ceape Brasil, sem um bom direcionamento financeiro esse crédito pode endividar aquelas pessoas que já se encontram em situação de vulnerabilidade social e financeira.
Outro ponto importante é que as mulheres são as principais tomadoras desse crédito. Em outro levantamento recente realizado pelo Ceape, foi observado que as mulheres respondem por cerca de 60% do volume total concedido. “Ou seja, aquela mãe de família, que cuida dos filhos sozinha, sem apoio algum. Ao conseguir recursos por meio do microcrédito, ela consegue montar um pequeno negócio e obter renda para manter sua família. Com isso, mostramos que a formalização é o passo seguinte. É quando a evolução social proporcionada pelo acesso ao crédito começa a gerar vantagens para a sociedade como um todo, já que ao se formalizar, passa a recolher impostos e a manter funcionários, se for o caso, devidamente registrados”, explica Claudia Cisneiros.
No caso do Ceape, a política adotada oferece orientação contínua mesmo após a concessão do crédito e de forma personalizada, aplicando in loco temas como fluxo de caixa, estratégias de vendas pela internet, dicas de atendimento, entre outros. Além disso, oferece um seguro para evitar que o empreendedor caia na inadimplência por conta de problemas alheios ao seu negócio.
Um exemplo é o de Lucinete Barbosa de Sousa, 70 anos de idade e moradora de Castanhal, no Pará. Comerciante de roupas e acessórios há mais de 40 anos, em março ela foi diagnosticada com câncer de mama. Apesar de possuir certa estabilidade devido às décadas de trabalho, Lucinete pode contar com um importante apoio financeiro no momento difícil. “O seguro para auxílio médico foi liberado em menos de dez e recebi uma indenização por causa da doença que foi muito importante”, afirma. A empreendedora teve direito a auxílio médico 24 horas e descontos em exames e consultas. A “surpresa” citada está na indenização no valor de R$ 10 mil que o Ceape concede aos clientes em caso de doenças graves.
Presente também nos estados do Maranhão, Pará, Tocantins e São Paulo, o Ceape Brasil conta atualmente com 21 mil clientes ativos, ou seja, com empréstimos em andamento. A instituição é especializada na concessão de microcrédito produtivo, que une empréstimo à educação financeira dos tomadores e já concedeu mais de R$ 2,5 bilhões em crédito, beneficiando cerca de 1,5 milhão de empreendedores, principalmente na região Nordeste.